22 outubro 2010

Desafios

Gosto quando tenho que enfrentar desafios. Gosto mais ainda quando o resultado é satisfatório. Tenho um exemplo bem recente: uma atividade avaliativa para as disciplinas de Jornalismo Especializado II e Técnicas de Redação/Projetos e Produtos II;

Você confere a seguir o trabalho que produzi sobre a 10ª Secomt (Semana de Comunicação Toledo), realizada neste mês, no Unitoledo, em Araçatuba.

Éramos uma equipe. Meu grupo ficou responsável pelas imagens, além de auxiliar na elaboração das perguntas para o palestrante Caco Barcellos. Eu entrevistei, produzi o texto e fiz a edição (áudio e vídeo);

Este material está disponível também no blog do curso e posteriormente será publicado no blog Mundo dos Jornalistas. O segundo é administrado pela professora Ayne Salviano.

Confira:

Angélica Neri
Cristiano Morato
Luis Eduardo
Dandara Fuhrmann
Carol Ferretti


“Por enquanto, sou [o repórter] das injustiças sociais”

Caco Barcellos, o repórter das injustiças sociais, como ele mesmo se define, foi destaque no encerramento da 10ª Secomt (Semana de Comunicação Toledo), em Araçatuba.

O palestrante tem, por excelência, uma postura equilibrada, entre o jornalista e o cidadão-comum. Atento ao que lhe rodeia, demonstra sensibilidade, sem perder o profissionalismo. Sabe transmitir valores, compartilhar experiências, provocar reflexões e despertar interesses.

No programa “Profissão Repórter”, da Rede Globo, Caco convive com jovens jornalistas. Enfrenta vários desafios e uma missão: mostrar a notícia com diferentes ângulos. Um formato ousado e atrativo, que lhe rende méritos.

Caco Barcellos também é referência em jornalismo investigativo, destacando-se, principalmente, em apurações sobre o tráfico e a violência. Não só em trabalhos televisivos, mas também em livros que conquistaram sucesso no meio jornalístico, como “Rota 66” e “Abusado”.

O primeiro tem a premissa de envolver o leitor em uma situação real, mas pouco explorada pela mídia: conflitos entre policiais e jovens da periferia, sob a ótica das vítimas. O segundo evidencia o universo das drogas e os protagonistas do tráfico, até então desconhecidos pela sociedade.

Durante a palestra, o jornalista apresentou duas reportagens. Além de falar sobre a produção e consequente repercussão, Caco Barcellos comentou sobre direcionamentos, personagens, mercado de trabalho e como empreender na área - a possibilidade de dar a volta por cima.

Para o profissional, o olhar diferenciado e crítico, a apuração responsável e o compromisso com as fontes são ferramentas indispensáveis na prática jornalística. Dentre seus ideais estão a defesa dos menos favorecidos e o respeito ao próximo. “Quando o país deixar de ser injusto, eu vou ser o repórter das justiças sociais. Por enquanto, sou das injustiças sociais”, afirma.

O jornalista, que já foi taxista, não nasceu em “berço de ouro”. Aos 12 anos vendeu passes escolares, depois ajudou na venda de frutas e verduras. Mais tarde enfrentou uma carriola, juntando vidros e ossos.

As palavras bem colocadas, a tranquilidade, o sorriso sereno de Caco Barcellos e a facilidade de compartilhar experiências não surpreendem. São peculiaridades dignas de quem, “por sorte”, venceu os obstáculos, e, com coragem, aprendeu a contar histórias.

Jornalismo Investigativo

Caco Barcellos cita que teve dificuldades para introduzir a prática do jornalismo investigativo na TV. Era um trabalho incomum. “Fui contra tudo e contra todos, forçando barras para investigar histórias de longo curso. No começo, tinha grandes resistências, mas depois gostaram, porque impressionava muito”.

Quais são as maiores deficiências do jornalismo atual?
Temos conteúdos que nos deixam de boca aberta, mas que não têm relevância. São conteúdos que somente visam a audiência. É preciso que os profissionais tenham o desejo de fazer a diferença. Os jornalistas devem ouvir os vários lados e saber contextualizar.

Qual a diferença entre a investigação feita pelo jornalista Tim Lopes e a sua?
São métodos diferentes. O Tim usava uma câmera escondida e não se apresentava como jornalista. Eu, ao contrário, raramente uso uma câmera escondida. Eu sempre me apresento, faço questão de mostrar que tenho uma câmera. Sou repórter, assumo integralmente, na frente do acusado. Acho muito importante também o trabalho que ele fazia, mas são situações diferentes. [...] No meu jeito, às vezes, corremos o mesmo risco. Uma cobertura de tiroteio em uma favela, uma rebelião, uma guerra, terremoto, enfim, nas catástrofes da natureza, é inevitável. Com câmera escondida ou não, a avalanche passa por cima de você, se não tiver no lugar certo, na hora certa.

A possibilidade de empreender é um dos assuntos da palestra. Como o empreendedorismo pode ser inserido no jornalismo?
Há características do bom empreendedor, segundo especialistas, que você pode detectar também na nossa função. Um repórter que trabalha com luz própria, um cara inquieto. Às vezes, diante de uma dificuldade, ele inventa situações para sair dela. É uma pessoa permanentemente focada na sua meta, não abre mão dela. A persistência é uma característica importante do empreendedor, a criação, a autodeterminação, e, sobretudo, a inquietude intelectual.

Tanto no livro “Rota 66”, quanto no “Abusado”, você registrou informações que até então foram poupadas por outros profissionais. Qual foi a reação do público, e até mesmo das fontes?
Não foi surpresa constatar que as pessoas acharam aquilo inédito, diferente de tudo que se costuma ler, assistir e acompanhar pela imprensa de um modo geral. Justamente por isso que eu quis fazer esses livros. Havia uma temática muito importante para a vida de muita gente, que era pouco abordada. No caso do “Abusado”, meu último livro, que lida com o universo das drogas, eu tinha essa convicção porque trabalhei muito tempo na cobertura desse assunto. Os protagonistas do tráfico eram desconhecidos da sociedade, porque a imprensa costuma cobrir esses eventos a partir do olhar de quem não estava envolvido: é o olhar da polícia, é o olhar da classe média, alta, das áreas mais nobres da cidade, e jamais o olhar do morro. Por isso eu quis fazer esse livro no morro, pra ter o olhar deles sobre esse problema. Claro que surpreende, porque as pessoas não tinham isso na cobertura cotidiana. Eu achava que era um grande motivo pra fazer o livro. Ora, se tanta gente não sabe dessa história aqui, vou aproveitar para contá-la. No “Rota”, da mesma maneira. Ali trata dos conflitos entre a Polícia Militar, Civil e jovens pobres da periferia, que sempre são abordados sobre a ótica da polícia, e nunca sobre a ótica do jovem, da família do jovem que é morto. Então eu quis tratar esse tema na ótica da vítima.

Quais são as suas dicas para que os jovens jornalistas não caiam em armadilhas e não publiquem informações falsas?
Trabalhar, trabalhar e trabalhar muito. Checar, checar e checar. Nada contra dossiê, mas dossiê através dos outros: que interesse ele tem ao fazer aquele dossiê? Que partido ele quer defender? Qual é o interesse da empresa que está atrás daquilo? Se não quiser perder tempo em apurar a origem da fonte, cheque se o dossiê é verdadeiro, vá atrás das histórias.



Caco Barcellos concede entrevista à imprensa - confira outros destaques: